O plenário da Câmara rejeitou, por 293 votos contra, 60 favoráveis e oito abstenções, uma moção de repúdio à atitude da presidente Dilma Rousseff de não receber a iraniana Shirin Ebadi, 63, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2003. O requerimento foi apresentado pelo líder do PSDB, deputado Duarte Nogueira (SP), mas a base aliada foi contra.
A alegação do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), é a de que uma "presidente da República tem o direito de decidir sobre a sua agenda" e que ela só recebe chefe de Estado.
"É inconcebível e injustificável a atitude da presidente (...). Shirin Ebadi não é um dissidente comum, é uma pessoa corajosa que merece o apoio de todos. Ser recebida pela presidente significará apenas que o Brasil está do lado certo: do lado da liberdade, dos direitos humanos e da paz", rebateu Duarte Nogueira.
Ontem, Shirin Ebadi lamentou a recusa de Dilma em recebê-la, dizendo que o encontro com a presidente era a principal razão de sua visita ao Brasil.
"Eu só vim ver a presidente, queria agradecer pela ajuda dela no caso Sakineh. Vou ter de mandar uma carta", declarou.
A advogada se referia ao caso da iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e de ter ordenado a morte do marido --a sentença de morte por apedrejamento não foi aplicada.
"Não queria falar de assuntos políticos [com Dilma]. Vim falar sobre direitos humanos e direitos das mulheres", disse Ebadi, figura emblemática da oposição ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, em conversa com jornalistas na sede da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo.
A ativista manterá seus planos de ir a Brasília, onde espera ser recebida amanhã por Dilma. "A intenção ainda é encontrá-la", disse o representante de Ebadi no Brasil, Flavio Rassekh.
O governo brasileiro, no entanto, só confirmou encontros com o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e com o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
O Palácio do Planalto deixou claro que a presidente estará em Blumenau (SC), o que foi considerado um sinal de que o governo brasileiro quer manter distanciamento da iraniana