Nova York - O setor nuclear mundial recebeu nesta segunda-feira (14/3) um forte golpe nas praças mundiais, devido ao temor de uma catástrofe no Japão, o que levou Alemanha e Suíça a congelar ou suspender seus projetos nucleares.
As autoridades japonesas lutavam nesta segunda-feira para evitar um grave acidente nuclear após as explosões na usina de Fukushima, atingida pelo terremoto violento e o tsunami devastador de sexta-feira passada.
A chanceler alemã Angela Merkel anunciou nesta segunda-feira que suspendia por três meses a decisão já aprovada por seu governo de prolongar a vida das centrais nucleares na Alemanha.
O que acontece no Japão "muda também a situação na Alemanha", declarou a chanceler em entrevista à imprensa. "Não podemos agir como se não tivesse acontecido nada", afirmou.
Apesar da oposição de maioria dos alemães, o parlamento havia decidido no outono passado no Hemisfério Norte prolongar 12 anos em média a duração de 17 usinas nucleares.Na Suíça, as autoridades anunciaram nesta mesma segunda-feira a suspensão dos projetos de renovação de suas centrais nucleares
Nesse contexto, os principais valores do setor registraram uma queda forte nas bolsas europeias: na Alemanha, EON e RWE perderam 5,26% e 4,77% respectivamente.
Nesse contexto, os principais valores do setor registraram uma queda forte nas bolsas europeias: na Alemanha, EON e RWE perderam 5,26% e 4,77% respectivamente.
Os dois grupos energéticos controlam 17 usinas nucleares do país, junto a um terceiro operador, uma filial do grupo público sueco Vattenfall.
Na Bolsa de Paris, EDF (Electricité de France, 80% da eletricidade da França é de origem nuclear) caiu 5,28%. O grupo nuclear público, Areva, (90% controlado pelo Estado), fechou o dia com uma forte perda, de 9,61%.
O problema não provém de um risco direto para estes grupos franceses, pouco presentes no Japão, segundo especialistas ouvidos pela AFP.
Em Wall Street, a maior baixa do índice Dow Jones foi registrada pela General Electric (2,16% negativos, a 19,92 dólares), que fabricou os reatores da central nuclear de Fukushima 1, cenário de várias explosões.
Os grupos energéticos que exploram usinas nucleares nos Estados Unidos também foram castigados: Constellation Energy (0,89% negativo a 32,16 dólares), Duke Energy (1,36% negativo, a 18,18 dólares) ou Exelon (0,63% negativo, a 42,89 dólares).
As mineradoras Denison Mines (22,49% negativos, a 2,55 dólares) que extraem urânio e o grupo Uranium Energy (19,18% negativos, a 3,92 dólares), também afundaram.
É difícil saber se a longo prazo as ações destes grupos se verão afetadas, já que ignoramos por enquanto, a magnitude da catástrofe no Japão.
A catástrofe de Chernobyl em 1986 paralisou grande parte dos programas de desenvolvimento nuclear durante mais de 15 anos.
A questão de moratória nas construções de usinas nucleares, que tiraria a credibilidade ao setor durante muito tempo, só seria concebível atualmente em países como Alemanha ou Suíça, segundo especialistas.
"Não acredito que Inglaterra, França ou China mudem sua política nuclear, mas é possível que sofram atrasos nos projetos" no setor, assegura Bertrand Lecourt do Deutsche Bank.
Paradoxalmente, segundo analistas, a tragédia japonesa poderia favorecer o desenvolvimento do reator de terceira geração EPR concebido pelo grupo francês Areva.
"É um produto difícil de vender, porque muito caro, mas alguns países se verão obrigados, talvez, a pagar mais por algo mais sólido, com um recinto de confinamento mais robusto", acrescentou o especialista.