O publicitário Marcos Valério, operador do escândalo do mensalão, já está em Salvador. Ele chegou por volta das 16h10 ao Aeroporto Internacional Luis Eduardo Magalhães, na capital baiana, e foi levado para a Polinter para prestar depoimento. O publicitário foi preso hoje de manhã, em Belo Horizonte, na Operação Terra do Nunca, deflagrada pela Polícia Civil da Bahia contra um esquema de grilagem de terras no oeste do Estado. Marcos Valério é suspeito de ter usado escrituras falsas de cinco fazendas que não existem como garantias em duas ações de cobrança por dívidas. Além dele, foram presas outras 14 pessoas. Além do publicitário, a aeronave do governo da Bahia Salvador também levou três ex-sócios das agências de publicidade envolvidas no esquema do mensalão: Margareth Freitas e Francisco Castilho (ex-sócios na DNA) e Ramon Hollerbach (ex-DNA). Segundo a polícia, Marcos Valério começou a ser investigado pela polícia baiana em 2010 após a Procuradoria da Fazenda Nacional de Minas Gerais requisitar informações sobre cinco fazendas apresentadas por ele em garantia em um recurso contra a execução de uma dívida de R$ 158 mil com o fisco. As fazendas Cristal 1, 2, 3, 4, 5 somavam 17.100 hectares, mas na verdade elas não existiam, segundo o delegado. "Era só no papel. A matrícula que originou o registro das cinco fazendas que o Marcos Valério apresentou como garantia era um terreno de 360 metros quadrados", contou o delegado.
OUTRO LADO
O advogado de Valério, Marcelo Leonardo, disse que as prisões são irregulares, mas que ele "não teve tempo hábil" de impedi-las. Segundo ele, os fatos, que teriam ocorrido entre 2003 e 2004, já teriam prescrito. Por esse motivo ele classifica as prisões como arbitrárias. Marcelo Sarsur, advogado da Margareth e Castilho, também criticou a prisão porque o processo ainda está na fase policial, por ser ainda um inquérito. "É direito de todo acusado ser cientificado da prisão com apresentação da cópia da decisão [do juiz] e mandado de prisão. Isso não foi feito." Sarsur informou que a defesa quer se inteirar desses fatos para saber as acusações que existem contra seus clientes, para poder entrar com o pedido de liberdade. Para o advogado Leonardo Isaac Yarothewsky, que também trabalha na defesa de Margareth e Castilho, as prisões para averiguações são da época da ditadura. "É um absurdo [a prisão] porque os fatos ocorreram em 2003. E, em 2003, a Margareth não era nem sócia ainda da DNA. Ela entrou no negócio no dia 30 de março de 2004."
O esquema funcionava desde 2000 no tabelionato de notas de Barreiras e no cartório de registro de imóveis de São Desidério. A operação deflagrada hoje reúne a apuração reunida em dez inquéritos.
Segundo a polícia, funcionários dos cartórios emitiam escrituras falsas. Os papéis serviam tanto para legalizar terras griladas na região quanto para empresários usarem os "imóveis" inexistentes como garantias em financiamentos ou processos judiciais. Uma das presas na operação, segundo o delegado, foi Ana Elisabete Vieira dos Santos, mãe do piloto de testes da Lótus de Fórmula 1, Luiz Razia. Ela era titular do cartório de registro de imóveis de São Desidério e foi demitida a bem do serviço público, em junho deste ano, após processo administrativo disciplinar do Tribunal da Justiça da Bahia.
Foto: FP