Com anuência dos colegas dos municípios localizados nas áreas das Bacias Hidrográficas dos Rios Verde e Jacaré, (afluentes do nosso tão amado e sofrido rio São Francisco) que banham a maioria dos municípios da Chapada Setentrional, convido o doutor Eugênio Spengler, excelentíssimo Secretário do Meio Ambiente do Estado da Bahia, a visitar nossas comunidades. São 32 municípios, que representam cerca de 650 mil habitantes.
Desejo tê-lo em nosso meio, para que possa desfrutar das delícias frutíferas de Mirorós, dos hortigranjeiros de Lapão, João Dourado e América Dourada, do que resta ainda da produção de peixe em Xique-Xique e Canarana, experimentar uma cachacinha, ou um melaço lá das serras do Assuruá, em Gentio do Ouro.
Imprescindível deliciar-se dos beijus de Itaguaçu da Bahia e da carne de bode em Jussara, dos animais abatidos nas instalações da Cooperj – Cooperativa de Criadores de Jussara. Feijão, talvez ainda encontre alguma coisa, mas é possível que a feijoada com perna de boi seja com grãos de outros estados ou regiões da Bahia. Há muito a cultura deixou de ter significado econômico por aqui. Os impactos ambientais da era feijoeira no território inviabilizaram a produção do grão por estas bandas.
Mas tem a pamonha com carneiro de João Dourado e excelentes pizzarias, comida chinesa em Irecê, onde também é possível usufruir da nova onda da economia da cidade: o turismo de negócios, com destaque para o comércio e prestação de serviços e compra de roupas de excelente bom gosto, por preços bem mais baratos que dos shoppings centers da Capital.
Feita a honraria da casa, de certo ocorrerá aquela prosa de fundo de quintal regada a um chá de capim santo ouervacidreira. Pode ser um cafezinho. Fundo de quintal é modo de dizer, pois de certo será no principal auditório da cidade.
Na prosa, espero contar com a elegância, transparência e clareza do insigne convidado (me disseram que é gaúcho de origem alemã), para explicar aos representantes de mais de meio milhão de baianos, a reforma estrutural da Sema – Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Os pouquíssimos convidados que foram ao gabinete refrigerado em Salvador, não ficaram satisfeitos com as explicações. Não se convenceram da eficientização desejada com as mudanças que prevêem inclusive a fusão do IMA – Instituto do Meio Ambiente e do Ingá – Instituto de Gestão das Águas e do Clima, com redução dos 11 escritórios do Ingá e dos 27 do Ima, em apenas nove.
O temor, então, se abate nas comunidades assistidas pelas regionais, sobretudo naquelas em que há um elevado passivo ambiental e que, em vez de ter os escritórios revigorados, serão ainda mais fragilizados, segundo a leitura de quem ouviu o secretário.
De certo, será apresentado ao nobre visitante alguns dados do nosso Território: são mais de 500 mil hectares desmatados (na sua absoluta maioria sem nenhum respeito à reserva legal), solos compactados, redução da capacidade hídrica, tanto subterrânea quanto superficial, uso indiscriminado de agrotóxico, - êpa, que o ilustre secretário não se preocupe, garante-se no cardápio apenas orgânicos. Certo Eládio!? -, reflexos do modelo de desenvolvimento predador, imposto oficialmente às famílias produtoras do Território ao longo de 60 anos sem que o Estado realizasse controle de fato.
Continuando a prosa, ele saberá que alguns municípios, como Irecê e Ibititá, se apresentam com quase 100% de destruição do bioma. Restam em Irecê apenas 3% da vegetação nativa, e em Ibititá, apenas 1%. Muitas famílias estão saindo do campo para as cidades, face à falência dos recursos físicos do solo em oferecer-lhes a segurança alimentar mínima. Registra-se pelos órgãos do Estado, redução das áreas cultivadas, seja com culturas de sequeiro, seja com as irrigadas, contribuindo assim para a ampliação dos índices de desertificação no campo e da violência urbana.
No entendimento dos participantes do encontro promovido pelo Doutor Spengler, com ambientalistas e servidores do Estado (para explicitação da reforma) da área de meio ambiente, ao menos com os que conversei, ele teria evidenciado o fechamento dos escritórios do Ima e do Ingá do Território de Irecê. Será verdade?
Ora, não seria o caso de fortalecê-los, para que ajudassem ao Estado e aos bons empreendedores a construir o rumo do reordenamento de um novo modelo de desenvolvimento territorial? Com justiça socioeconômica e responsabilidade ambiental?
É para tirar dúvidas, respondendo inquietações como essas, além do portifólio gastronômico e da oportunidade em comprar roupas e calçados bons e baratos, que se faz este convite ao Excelentíssimo Secretário Estadual de Meio Ambiente da Bahia.
Depois da prosa, a gente pode fazer uma ecotur pelos rios Verde e Jacaré. Não há mais como ir de barco, o que era comum quinze anos atrás, mas a gente ainda consegue algumas mulas para visitarmos o que resta dos rios e dos empreendimentos que se encontram no seu leito.
Ah, aqui tem aeroporto para aeronave de até cinco toneladas, o Nobelino Dourado e hotéis de qualidade, que já acolheram o nosso governador Jaques Wagner.
Na certeza do aceite, seja bem-vindo.
*Secretário do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Irecê, Pedagogo com especialização em Gestão Pública e Sustentabilidade. E-mail: João.goncalves43@hotmail.com
João Gonçalves- Irecê Bahia