O poder público não faz os investimentos necessários para evitar as tragédias causadas pelas chuvas. A avaliação é do professor Augusto José Pereira Filho, titular da disciplina de Hidrometeorologia no departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica (IAG) e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo).
"É angustiante ver que os investimentos são feitos em dragagens e piscinões, por exemplo, mas não na rede de superfície que engloba desde sistemas de alertas e monitoramento de superfície a informações e educação ambiental àqueles que vivem nas áreas de risco; não é um investimento completo.” Nesta tarde, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou em entrevista coletiva que o combate às enchentes que afetam o Estado nos últimos dias precisam de obras que "não ficam prontas em 24 horas" e que, para tal, cerca de R$ 800 milhões serão gastos com dragagem até o fim de seu mandato.
Em entrevista ao UOL Notícias, Pereira Filho afirmou que a forte chuva que atingiu São Paulo e região metropolitana de ontem (10) para hoje (11), somando 53,9 mm, segundo medição do IAG, não é um fenômeno excepcional, considerada a média superior a 600 mm registrada na cidade em janeiro do ano passado --a mais alta, desde que a medição começou a ser feita pelo instituto, em 1933.
"Tivemos o furacão Catarina em 2004 e até hoje Santa Catarina não dispõe de um radar ou um sistema mais moderno; o mesmo vale para Itajaí (SC), fortemente atingida pelas chuvas em 2008. Gasta-se muito recurso público em ações estruturais e pouco, quase nada, em uma educação ambiental mais significativa --o grosso da população não sabe como agir nessas situações de catástrofes”, ressalta o professor.
Investimento necessário
Para o professor, além de um sistema de informações integrado e coordenado pelos governos estaduais, também são necessárias medidas que aumentem a permeabilidade do solo em grandes centros urbanos, como São Paulo.
“Há necessidade urgente de um cuidado grande a respeito dos deslizamentos, pois é neles que a morre a maioria das vítimas dessas catástrofes. Deixar isso para cada município coordenar já mostra que não resolve, pois é preciso uma equipe multidisciplinar, grande, que trabalhe também no alívio do sofrimento causado. É todo um amparo e suporte, inclusive psicológico, enfim, que vem também na sequência”, disse, para completar. “O caos se repete ano após ano, e com a população crescendo nas cidades, os desafios e os problemas tendem a ser sempre maiores”, concluiu.